L.V. –
Ganhei uns dois ou três, não me recordo direito... Eu fui laureado com muitos
troféus. O mais importante pra mim foi ter recebido o Prêmio Cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro, criado pelo jornalista Claribalte Passos, que
assinava a coluna Discoteca no jornal Correio da Manhã. Os artistas
que mais vendiam discos, de música nacional - popular e erudita -, recebiam a
estatueta em bronze Euterpe. Entregue com uma medalha e um diploma
durante uma gala no Theatro Municipal do Rio. Uma coisa maravilhosa!
T.M. – Você participou do programa Alegria dos Bairros, conhecido entre os artistas do cast da Record como “Tristeza dos Bairros”?
L.V. –
Risos. Sim, eu estava na estreia deste programa em 1955. A Record adquiriu um
ônibus de viagem, muito bacana, que leva os artistas da porta da emissora até o
cinema de bairro onde teria os shows. O programa era no domingo, das nove horas
ao meio-dia. Então você imagina: a maior parte dos cantores também atuavam em
boates na madrugada, diversos acabavam ficando acordados até o dia seguinte
para comparecerem ao programa, e outros detestavam acordar cedo, daí o apelido
“Tristeza dos Bairros”. Os apresentadores eram o Geraldo Blota, Randal Juliano
e, de vez em quando, o Blota Júnior e o Raul Duarte. Sobre este último, eu
esqueci de contar uma passagem no começo da nossa entrevista: foi o Raul também
que sugeriu meu nome para o Paulinho de Carvalho. Porque, em 1951, eu tinha
gravado um disco 78 rotações para a Todamérica, e uma das faixas era o baião Pai,
acende o lampião, parceria minha com meu amigo maestro Ubirajara dos
Santos. O humorista Pagano Sobrinho pegou o disco lá na discoteca e usava
refrão da música que diz: “Ô pai por caridade / acende o lampião / que eu
sou menor de idade / tenho medo da escuridão”. O Pagano estava estourado de
sucesso, ele contava uma piada e arrematava: “Morô? O pai por caridade
acende o lampião...”, e a turma se divertia à beça! O Raul Duarte quis
saber de quem era o baião e o Pagano disse que era de um tal Luiz Vieira... E
mostrou o disco. Raul Duarte era cunhado da cantora Alda Perdigão que gravou a
minha Guarânia da Saudade.
Em 1955, o Pagano e eu gozávamos de grande cartaz na
Record, assim como a Isaurinha Garcia, e éramos escalados para o fim do
programa Alegria dos Bairros, entrávamos lá pelas onze e meia. Portanto,
podíamos dormir até mais tarde e não precisávamos pegar o ônibus às sete da
matina.
O Pagano morava nos Campos Elíseos, na Alameda Barão
de Limeira, o lugar era conhecido como “boca do lixo”. Ele tomava o táxi e me
pegava na porta do Lord Hotel, ali na Av. São João e nos dirigíamos para os
bairros paulistanos. Esse período de regalia reinou até que apareceu o Carlos
Gonzaga, em 1958, e estourou com a versão de Diana (gravação original de
Paul Anka). E tem mais histórias: eu era “cangaceiro” nos anos 50, usava cinto
de fivela larga e andava armado, era mais para folclorizar do que por
valentia... Mas eu acabei dando uns tapas em dois artistas, primeiro no Ronnie
Cord, filho do maestro Hervê Cordovil, que me desacatou durante um dos
programas Alegria do Bairro. Ele apanhou de mim e em seguida do pai.
Depois, foi o Carlos Gonzaga. Ele teve uma atitude antiética. Eu sempre tive o
cuidado de entrar enquanto o artista anterior estava sendo aplaudido, assim não
o atrapalhava e também ganhava palmas. Naquela época, o público desses cinemas
de bairros vinham abaixo de tanta euforia. Certa vez, estava terminando o meu
número para depois o Geraldo Blota anunciar o Carlos Gonzaga. Ele não esperou
eu terminar minha música e entrou, não sei se foi de propósito ou não. A
plateia começou a aplaudi-lo. Esperei ele terminar de cantar e voltar para a
coxia. Não teve dúvida, quando ele entrou fui tirar satisfação. Já cheguei
batendo nele. Foi horrível. Tirei o revólver da cinta, mas não atirei, foi só
para amedrontá-lo. Formou-se aquela confusão e barulho!!! O Geraldo Blota veio
até lá ver o que estava acontecendo e apaziguou a situação... Nunca mais ele me
desacatou!!!
No Alegria dos Bairros eu também tive uma das
maiores emoções da minha vida: num dos primeiros programas eu fui cantar num
cinema no Brás, era o Piratininga, na Av. Rangel Pestana, tinha mais de três
mil pessoas. Acho que era o maior cinema de São Paulo. Anunciaram-me, eu entrei
e quando comecei a cantar Menino de Braçanã, o público entrou comigo e
aquilo me arrepiou! Três mil vozes juntas!!! Eu quase desmaiei de emoção! Nunca
imaginei que um dia iria escrever uma música e que ela estaria na boca e no
coração do povo. Acho que foi a maior emoção que eu tive com artista... Comecei
a chorar e todo mundo cantou comigo. Essa sensação é algo indescritível de
emoção e beleza... Você se cega diante de tanto encanto! O período em que
estive na Record foi um momento auspicioso da minha carreira...
Eu herdei toda essa musicalidade da minha avó paterna
e da minha mãe, que era portuguesa de Trás-os-Montes. Engraçado, já viajei para
tantos lugares do mundo e somente à Portugal que nunca deu certo... Em 1974 a
minha grande e querida amiga Maria Alcina, fadista, viajou de volta a sua terra
e perguntou qual presente eu queria que ela trouxesse de lá, respondi. “Traga
terra e sementes da terra da mamãe”. E ela trouxe, tenho um frasco com
terra de Trás-os-Montes que fica na cabeceira da minha cama até hoje...
T.M. – Mesmo após deixar a Record e a Excelsior, em 1965, você vinha constantemente a São Paulo?
L.V. – Nessa
época eu me casei com uma paulista e tive meu primeiro filho (1958), também
chamado Luiz. Morávamos em um apartamento no bairro de Indianópolis, perto dos
estúdios da Record. Acontece que desde os tempos da Excelsior, eu passei a
vender meus próprios contratos e viajar por todo o Brasil sozinho. Em seguida,
entendi que isso podia frutificar e eu sozinho ficava muito chato, comecei a convidar
meus colegas para atuarem comigo em shows. Era muito difícil viajar de avião de
um ponto para outro do Brasil, para o sul e o nordeste nem se fale! Tudo era
caríssimo. A não ser quando tinham grandes eventos como aniversário de rádios e
tevês. Como eu tinha o patrocínio da Varig, para quem fazia propaganda,
conseguia fazer este intercâmbio com os artistas. Toda semana, para onde eu
fosse, levava um cartaz comigo, eu fazia metade do programa e a outra ficava
para o meu colega. E assim foram muitos anos. Tive programas fixos de TV em
Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba. Veio a separação
da primeira esposa. Depois quando meu filho Luiz ficou maiorzinho, levava ele
também para fazer shows comigo, ele estudou música. Não fui um pai muito
presente para o primeiro filho, devido ao excesso de trabalho, por isso, curto
meus filhos gêmeos nascidos em 2007, do meu casamento com a Eurídice Pereira,
que também cuida dos meus programas, da agenda, e produz o meu programa na
Rádio Manchete AM 760, Eu Show Luiz Vieira / Minha terra¹, Nossa Gente, um dos pontos altos é o quadro Gente que
Brilha, criação de Paulo Roberto na Rádio Nacional, que contava a vida de
um artista no dia do seu aniversário, e continuo essa atração.
O rádio eu nunca abandonei.
Desde 1946 quando fazia o programa Manhãs na Roça, na Rádio Clube do
Brasil. Tinha ficado uns dois anos apenas secretariando o programa do Zé do
Norte, não ganhava um vintém, mas adquiri experiência. Então, o Paulo Garamount,
diretor-artístico, me contratou. Com a ajuda do maestro Ubirajara dos Santos, o
“Bira”, fiz meu primeiro programa de músicas sertanejas e nunca mais parei.
Sempre conto histórias, causos, faço homenagens aos meus colegas. É uma delícia
ter um programa de rádio! Às vezes choro no ar sem nenhum constrangimento, é
pura emoção e sensibilidade no coração!
[1]
O programa de Luiz Vieira na Rádio Manchete foi encerrado em 2016 quando
a emissora, com nova direção, alterou a grade de programação. No mesmo período,
Luiz Vieira ficou doente e impossibilitado de continuar no rádio. Eu Show Luiz Vieira / Minha
terra, Nossa Gente esteve no ar por 36 anos, passou pelas radios
Nacional, Rio de Janeiro, Carioca e Manchete.
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