Romão e Julinha e uma nota feliz

Por Thais Matarazzo

    Há poucos dias publiquei aqui no site uma crônica em homenagem aos atores Chiquinho Brandão e Flávio Guarnieri. Retorno ao assunto, pois aconteceu uma situação peculiar, muito bonita.

    A gente sempre guarda na memória afetiva eventos que nos dizem mais ao coração. Um momento de encantamento da minha infância foi assistir o espetáculo Romão e Julinha, de Oscar von Phuhl, quando tinha cinco ou seis anos, no Teatro de Cultura Artística, em São Paulo.

    Encontrei em um sebo no centro da cidade, pouco antes de começar a pandemia da Covid-19 no Brasil, o livro Romão e Julinha. Folhei rapidamente o volume surrado, decidi comprar, coloquei-o na pilha com outros títulos que escolhi. Eu não sei o que aconteceu, quando cheguei em casa a obra não estava na minha sacola. Que pena! Guardei a informação da capa: dois gatinhos e a arte nas cores laranja, amarelo e branco.

    Passou.

    Após a publicação da crônica, resolvi procurar o livro no site Estante Virtual. Por sorte encontrei o resultado buscado e um dos itens tinha a capa idêntica ao que eu vi no sebo anteriormente, ou seja, da primeira edição de 1982. Paguei R$ 6,00, bem baratinho.

  Passada uma semana, o carteiro toca a campainha e me entrega o livro. Quando eu abri, quase desmaiei: a página de rosto está autografada pelo autor e dedicada a quem? Ao Flávio Guarnieri. Na descrição da venda não constava essa informação.

    Flávio Guarnieri foi o protagonista da peça que assisti junto com a atriz e apresentadora Silvana Teixeira, como narrei na crônica anterior. Que incrível!



    Coincidência, não?

 Você pode não acreditar, aconteceu algo "mágico": ao folhear as páginas senti uma sensação aprazível, envolvente mesmo. Voltou aos meus olhos alguns flashs do espetáculo dos gatos brancos e gatos amarelos interpretados por queridos artistas, diversos pertencentes ao elenco do infantil Bambalalão da TV Cultura, "febre" da criançada na década de 1980.

    Imediatamente comentei o fato com a minha amiga Camila Giudice, ela também ficou embasbacada com a circunstância.

    O ator Flávio Guarnieri nos deixou em abril de 2016, aos 56 anos, devido a uma leucemia. Além de grande artista, foi uma pessoa com um coração generoso, já ouvi diversas pessoas que o conheceram comentarem isso.

    Mas, o que desejo expressar é que fiquei muito tocada ao receber essa pequena joia literária, pois neste momento eu sou uma paciente oncológica, e posso imaginar como foi difícil a descoberta da doença para o Flávio, uma pessoa tão ativa e talentosa. Parece que pouco tempo depois de saber do diagnóstico, o artista veio a falecer. 

    Então, intepreto que esta "coincidência" não foi uma "coincidência" e sim uma "mãozinha" do Flávio ao fazer o caminho para que o livro viesse ao meu encontro. 

      E que encontro maravilhoso! 

  Alegrou o meu coração porque me fez regressar a uma altura da minha vida onde tudo era alegria e despreocupação. Não reclamo do presente, não, pois graças a Deus e a ciência, meu tratamento oncológico tem dado super certo e estou melhorando um pouquinho por vez. Agradeço o mimo de recordar um momento tão doce da infância, foi uma gota de ternura no presente. 

    Termino esta crônica emocionada. 

    É isso que eu gostaria de compartilhar com o amigo leitor!

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