Uma cena radiofônica da Paulicéia

 

Por Thais Matarazzo

Publicado anteriormente em 2011

A radiodifusão iniciou-se no Brasil em 1922. Em matéria musical, o rádio começou apresentando a música erudita, partia de Chopin e vinha caminhando por Toselli até chegar em Verdi. Depois, abandonou-se tudo isso e o rádio começou a abraçar o samba, a marcha, o choro, o baião e outros ritmos bem brasileiros, assim se escreve a parte popular da música do rádio.

Até 1937 a capital paulista já contava com dez emissoras radiofônicas: Rádio Educadora Paulista - PRA-6 (1923); Rádio São Paulo - PRA-5 (1927), Rádio Cruzeiro do Sul - PRB-6 (1927), Rádio Record - PRB-9 (1928), Rádio Cosmos - PRB-7 (1934), Rádio Cultura - PRE-4 (1934), Rádio Excelsior - PRG-9 (1934), Rádio Difusora - PRF-3 (1934), Rádio Bandeirantes - PRH-9 (1937), Rádio Tupi - PRG-2 (1937).



Cornélio Pires  uma das legendas do rádio paulistano
nas décadas de 1930/40, foi compositor, escritor,
folclorista, empresário, e ativista cultural. 
Acervo: Neide Ciarlariello


A Rádio Educadora Paulista (atual Gazeta), fundada em novembro de 1923, seguia a risca os objetivos do professor Roquette Pinto para serviço da radiodifusão: "atender os interesses nacionais e finalidade educacional", a programação musical era composta por música erudita.

Mas, o povo gostava queria mesmo era ouvir da "torneirinha do bom som" a música popular. Em 1932, através do decreto 21.111, o presidente Getúlio Vargas autorizava a veiculação de propaganda comercial pelo rádio, então, foi possível a canalização de recursos, assim as emissoras puderam contratar profissionais e artistas com exclusividade, o rádio deixa o amadorismo e começa a profissionalizar.

A Rádio Record merece destaque neste aspecto: os locutores e produtores César Ladeira e Nicolau Tuma introduziram inovações no meio seguindo o modelo norte-americano, desde o destaque para a música popular até o pioneirismo nos formatos de programas de jornalismo, esportivo, radioteatro e outros. Em 1933, as rádios Cruzeiro do Sul e Cosmos, pertencentes à família Byington, formaram a primeira cadeia efetiva de transmissão em território nacional, era a rede Verde-Amarela.

Logo, o rádio, seus artistas e profissionais, começaram a ganhar a atenção de jornais e revistas que criaram seções especiais com noticiários radiofônicos. O primeiro cronista especializado no assunto, em São Paulo, foi Aristides de Basile, nas páginas do Correio da Tarde, depois surgiram Ary Machado, Péricles Amaral, Egas Muniz, Mauro e Thirso Pires, Gracy Graciano, Élcio de Carvalho, entre outros.

As famílias costumavam se reunir na sala em frente ao aparelho receptor - que tinha lugar de destaque-, para escutarem e sentirem deliciosas sensações nas vozes afinadas de Isaura Garcia, Vassourinha, Déo, Paraguassú, Helena Pinto de Carvalho, Januário de Oliveira, Laís Marival, Nhá Zefa, Arnaldo Pescuma, entre outros cantores e artistas das décadas de 1930/40. Neste momento ainda não existiam os auditórios e os fãs se amontoavam numa pequena sala verem seus ídolos através de um vidro, que isolava o som do estúdio de gravação, e era conhecido como "aquário".


Elenco de artistas, músicos e diretoria da
Rádio Educadora Paulista, em janeiro/1935. 

Ainda neste período eram considerados os melhores programadores do rádio paulista: Otávio Gabus Mendes, Raul Duarte, Armando Bertoni e José Nicolini. O primeiro grande e moderno auditório da cidade surgiu em maio de 1939, quando a Rádio Cultura inaugurou sua nova sede na Avenida São João. O local era conhecido como "Palácio do Rádio" tal a suntuosidade de suas instalações, foi esta emissora a responsável por um dos mais famosos programas de calouros da época: Hora da Peneira ou Peneira Rodhine, com patrocínio da Industria Ródia, era sempre apresentado aos sábados das duas às cinco da tarde, sucesso absoluto, ficou no ar por cerca de 20 anos!

Esse fascínio do rádio sobre o público constituiu um fenômeno, principalmente para as famílias pobres, foi uma janela aberta para a fantasia: além de informativo trazia para os lares um mundo mágico através das vozes dos artistas.

A Paulicéia, diferente do Rio de Janeiro, cultivou não só o samba e a marcha como a seresta, a modinha, a música caipira e outros ritmos regionais e internacionais, pois foram muitas as nacionalidades que concorreram para a formação de São Paulo, imprimindo-lhe uma fisionomia essencialmente multicultural. 


Estúdio da Rádio Cruzeiro do Sul, vemos, da esq. para 
dir., o maestro da orquestra, e os cantores Paraguassú,
Dora Barbieri e Sebastião Leporace, 1943/44.


Elenco do Theatro Alegre, da Rádio São Paulo,
Tom Bill, Chico Carretel, Zé Fidelis, Nhá Zefa e n.i., 1937

Estúdio da Rádio Record, vemos, Raul Duarte (locutor)
e os artistas do Radioteatro Manuel Durães, setembro/1939.


 

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