Um dia por vez... Especulações e curiosidades!

 

ESPECULAÇÕES E CURIOSIDADES!

(Crônica 6 – 12/5/2021)

Essa crônica é um desabafo para gente sem noção e totalmente desinformada.

É difícil ouvirmos bobagens, especulações e indagações ofensivas, ainda mais quando estamos doentes.

Como diz minha mãe, coisas desse tipo, só podem partir de pessoas parvas, insensíveis ou maldosas.

Desde que tornei público o fato de ser paciente oncológica, diagnosticada com câncer de mama metastático, tenho granjeado muitas manifestações solidárias, de empatia, de carinho e de respeito, massss... de uns tempos para cá tenho recebido alguns telefonemas de pessoas sem noção, com perguntas invasivas e pressuposições, quer dizer, às vezes não são questionamentos e sim afirmações.

Comentarei um caso ocorrido a semana passada: uma criatura com quem não converso faz muito tempo, resolveu entrar em contato. Começou a dizer um montão de absurdos, de situações de pacientes oncológicos que ela conheceu, que um morreu, que outro sofreu horrores, e blá-blá-blá-blá-blá... após despejar o conteúdo mal-intencionado na minha orelha, inquiriu se aquelas situações também aconteceram comigo?

É possível um negócio desse? Um insulto sem tamanho à minha inteligência e sensibilidade?

Primeiro respondi que se eu estava falando com a fulana é sinal que estou vivíssima, em seguida, nem preciso dizer que a mandei “plantas batatas” (na verdade, mandei para outro destino).

Num outro telefonema o sicrano, que nunca vi pessoalmente, desejava saber como eu estava após a mastectomia, seções de quimioterapias, queda de cabelo, desidratação, entre outras coisas??? Porque essa criatura também conhecia diversas pessoas com câncer, e sabia de tudo e mais um pouco sobre a doença! Então, perguntei se ele era oncologista e de onde tinha inventado aquelas informações sobre o meu caso. Ele ficou mudo!

– É que ouvi dizer, sabe. Um amigo comentou comigo... – disse o sicrano.

– Em primeiro lugar, quem te deu autorização para me telefonar e invadir a minha intimidade? E segundo: quem é esse tal amigo? – metralhei.

Nem preciso dizer que o homem se embaralhou todo para responder. Por fim, comentou que tinha curiosidade em saber como uma pessoa vive com o câncer. Respondi que não era da conta dele e mandei-o “lamber sabão”! (na real, falei algo impublicável).

O terceiro caso foi o seguinte: uma fulana que perdeu recentemente um parente querido, após longo sofrimento devido a um câncer, e deveria ter, no mínimo, um cadinho de sensibilidade pelo próximo, me contatou para dizer que tinha muita pena em saber que eu sou portadora de câncer “ainda mais uma metástase!!!” – palavras da criatura.

– Eu assisti algumas entrevistas suas e li seu livro Alegria e Gratidão. Parece que você está bem, mas tenho certeza que se sente infeliz, não é?

– Como??? – respondi.

– Sim, eu sei como é! A família toda sofre e o doente se faz de forte para mostrar superação, porém, no fundo é o fim da vida.

– Fulana, pode parar! Que conversa sem pé nem cabeça é essa? Você sabe mais de mim do que eu própria? É melhor se calar.

– Calma, minha querida. Sei de algumas receitas milagrosas que podem te ajudar. E tem mais: se você tiver fé será curada! Blá-blá-blá-blá...

– Fé eu tenho e muita para enfrentar tudo o que vier pela frente, o que não tenho é paciência para ouvir tanta asneira de gente sem cérebro e sem coração! – falei e desliguei o telefone.

Agora, quando alguém entra em contato e percebo que o interlocutor irá lançar mensagens de hipocrisia, maldades ou tolices, dispenso a conversa.

Por isso, se você conhece uma pessoa que está doente e for conversar, pense antes de falar qualquer coisa. Ao invés de dizer bestagens, se informe! Aproveite a oportunidade para transmitir boas palavras, faça uma boa ação e não o contrário. Guarde curiosidades e especulações para você e não seja indiferente a dor alheia!

Mais respeito, amor e solidariedade, por favor!