TOADA DA VIDA
(Crônica 7 – 19/5/2021)
Domingo
de manhã escutei pelo rádio que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, havia
falecido aos 41 anos, devido a um câncer no sistema digestivo com metástase.
A morte de uma pessoa jovem
provocada por uma prolongada enfermidade sempre choca mais o público. Mas a morte
faz parte da nossa trajetória e, acredito, que a maioria das vezes, as pessoas
não estão preparadas para este momento final.
Desde 2019 quando foi diagnosticado
com a doença, Covas nunca escondeu nada do público. Mesmo em tratamento
oncológico, continuou a trabalhar. Sempre sorrindo, falando com otimismo e
motivação, seguia sua agenda à frente da Prefeitura.
Ficava surpreendida com a sua
disposição, coragem, alegria, serenidade, foco, o saber lidar com as
dificuldades, e a transparência em falar sobre o câncer. Sua forma de encarar
esse “teste da vida”, cativou a minha admiração pelo Bruno como ser humano.
E quando se está doente é preciso
aproveitar os pequenos momentos de felicidade que a vida ainda nos reserva,
apesar dos riscos. Em janeiro deste ano, ele e o filho Tomás, de 15 anos, viajaram
até o Rio de Janeiro, para assistir à final da Libertadores da América, no Maracanã.
Devido à pandemia do Covid-19, Bruno foi criticado nas redes sociais. Acredito que no fundo do seu coração, ele sabia que precisava atender o pedido do seu amado filho.
Quando descobri também ser portadora
de um câncer de mama metastático, me lembrei do exemplo inspirador do finado
prefeito. Embora sinta hoje que não tenho a mesma disposição física de antes,
não desisti do meu amado trabalho com a literatura e os livros, mesmo sendo
complicado diminuir o ritmo. Contemplo e agradeço a D’us por tudo o que ele me
oferece. Procuro me concentrar nas coisas boas e que me dão prazer. Prossigo a
sonhar e fomentar meus objetivos, isso facilita a perseverar na luta diária da
vida. E... não perco nenhuma oportunidade em fazer o que gosto!
Vi pessoalmente duas vezes Bruno
Covas.
A
primeira vez foi em 18 de abril de 2019, na inauguração, após uma reforma, da sala
multiuso, que tem seus janelões virados para o jardim da Praça Dom José Gaspar, na Biblioteca Mário de Andrade, no
centro.
Lembro-me
de ter escutado a notícia sobre o evento um dia antes na Rádio Cultura FM, foi
anunciada a presença da Conceição Evaristo, uma das convidadas. Já
havia lido alguns livros da escritora, como, Olhos d’água, Ponciá Vicêncio,
Becos da memória e Insubmissas lágrimas de mulheres. Geralmente,
compro livros, leio-os e faço as obras circularem através de doação dos
exemplares para bibliotecas ou pessoas interessadas. Por outro lado, também
gosto de colecionar livros autografados, e como as obras de Evaristo me
impactaram fortemente, ah... queria seu autógrafo também. No dia do evento
antes de ir para o evento na “Mário”, passei em uma livraria independente no
Bixiga para adquirir os títulos.
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| Bruno Covas na inauguração do "Sarauzódromo" da Biblioteca Mário de Andrade, em abril de 2019. Crédito da foto: https://www.capital.sp.gov.br/noticia/dia-do-prefeito-bruno-covas-1555620943.37 |
Pontualmente, às 19 horas, Bruno Covas chegou com sua comitiva na biblioteca e foram direto para o “Sarauzódromo”. Ele abriu a solenidade e anunciou que o espaço receberia o nome de Tula Pilar Ferreira, uma homenagem à poetisa e escritora mineira que morou na periferia paulistana durante muitos anos, e que havia falecido poucos dias antes. Afirmou ainda que a sala seria destinada às apresentações de saraus e slams de coletivos de toda a cidade.
Em
seguida, após alguns discursos, foi a vez da apresentação de Conceição
Evaristo, Roberta D’Alva, e um excelente violonista que não consigo me recordar
o nome, ele acompanhou com um fundo musical a leitura de trechos do romance Água
Funda da escritora Ruth Guimarães, e declamações de poemas de Tula Pilar.
Seis
meses depois, em 5 e 6 de outubro de 2019, aconteceu o I Festival Mário de Andrade, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. A Editora Matarazzo e o Coletivo São Paulo de Literatura concorreram ao
chamamento para participar do “Corredor do Livro” - trajeto formado entre a “Mário" e a Praça das Artes, na Rua Conselheiro Crispiniano -, fomos contemplados e recebemos
duas tendas. A programação do evento foi rica. Foi uma experiência fantástica
participar!
No
domingo dia 6, na parte vespertina, o prefeito, o secretário de Cultura,
Alexandre Yossef; outras autoridades e assessores caminharam pelo “Corredor do
Livro”, eu estava na tenda da Matarazzo conversando com dois leitores, vi
quando a comitiva passou causando um burburinho. Depois, todos entraram no
Theatro Municipal, pois aconteceria um bate-papo e lançamento do livro “Prólogo,
Ato, Epílogo” da jornalista Marta Góes, uma homenagem aos 90 anos da atriz Fernanda
Montenegro.
Nossa tenda estava localizada na Conselheiro Crispiano, quase na esquina com a Rua 24 de Maio, em frente a lateral do teatro, de onde se vê suas imensas janelas. Quando encerrou o evento, lá pelas 18 horas, um grupo seleto de convidados foram para um coquetel reservado em uma das salas do teatro.
De uma das janelas nós avistamos vários artistas, políticos, jornalistas e outras pessoas. Enquanto lá fora realizávamos o sarau de encerramento com vários escritores e poetas independentes, avistamos do lado de fora toda movimentação refinada reunião social. Teve um momento em que Fernanda e Bruno Covas apareceram na janela, tinham taças nas mãos e brindavam o festival.
Lembro
que naquele momento o poeta Thomás Miranda gritou:
-
Gente, olha a Fernanda Montenegro! – ela notou a nossa movimentação e acenou um discreto tchauzinho.
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| I Festival Mário de Andrade, outubro de 2019. Foto: Gilberto Cantero |
Enfim,
essas memórias me vieram à mente hoje e quis registrar na crônica da semana. Na
toada da vida, na melodia, nos arranjos e nos contrapontos, precisamos sempre estarmos atentos
para não perdemos o compasso e o ritmo de sermos alegres apesar de qualquer
adversidade!
A
nobreza de caráter está na solidariedade, coragem, na empatia pelo próximo, e na vontade de viver!
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