Memórias dos meus tempos de pesquisadora

 (Crônica - 8/2/2022)

Thais Matarazzo

Arte digital de Giovanna Allievi

    Foi com o jornalista, pesquisador, cantor, técnico de futebol e escritor Adauri Alves (Arapongas, PR, 1947 - Franco da Rocha, SP, 31/3/2019) com quem muito aprendi sobre pesquisas históricas, jornalismo, livros e memórias de São Paulo, no início da minha trajetória profissional. Nos conhecemos em 2000 na Biblioteca Mário de Andrade. 
    Sempre andava com anotações em papéis avulsos, tudo para guiar suas pesquisas. Era avesso a computadores e internet. Um grande conhecedor da cultura brasileira. Foi historiador e memorialista dos municípios de Franco da Rocha e Francisco Morato, SP.  Morava na região e para se deslocar até o centro da Capital paulista utilizava o trem. Costumava desembarcar na Estação da Luz e caminhava até o Largo do Paissandu, "seu ponto", conforme falava. Lá frequentava uma banca de revistas usadas do Luiz, ia até a Sicam, de onde era membro e sócio-fundador, enfim, conhecia muita gente.


Adauri Alves, num momento de descontração 
na entrada da Estação da Luz, em outubro de 2007.
Foto: Thais Matarazzo

    Sabedor da minha paixão pelos artistas do rádio — mote das minhas pesquisas de então —, lembro-me que uma vez o sr. Adauri me convidou para ir até um prédio da Av. Cásper Líbero, na Santa Ifigênia, para conhecer a Rob Stan, loja de discos de vinil e cd, propriedade do compositor, acordeonista, produtor e escritor Roberto Stanganelli (1931 – 2010). Fiquei encantada com o Stanganelli, uma pessoa espiritualizada e que conheceu muitos artistas do rádio. Um excelente contador de causos. Ele me forneceu livros, informações e discos de vários intérpretes, foi uma pessoa generosa. 


    Quando tinha 18 anos, o sr. Adauri, em busca de melhores oportunidades de trabalho, deixou sua cidade natal, Arapongas, no norte do Paraná, e transferiu-se para São Paulo. Desejava se firmar como artista, cantor e compositor. Não foi fácil. Batalhou bastante e chegou a gravar discos, contava que percorria os corredores das rádios da cidade e do interior para "caitituar" seus LPs. Quando a vida artística não estava mais interessante, por questões econômicas, ele partiu para uma outra paixão: os livros e as pesquisas históricas.
    Nos encontrávamos também para pesquisas no Arquivo do Estado de São Paulo, em Santana. Uma vez apareceu por lá uma jornalista do "Estadão", desejava fazer uma reportagem com pesquisadores e consulentes assíduos para um caderno especial que seria publicado no aniversário da cidade, em 25 de janeiro de 2008. O sr. Adauri lá estava e foi indicado por um funcionário da casa. Marcaram a entrevista para dois dias depois. Naquela noite, eu estava na casa da minha nonna quando o telefone tocou, era o sr. Adauri me convidando, generosamente, para também fazer parte da matéria Nos arquivos, a memória da cidade. Foi uma ótima oportunidade!



    

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