Esterzinha de Souza e Cyro Pereira na década de 1950.
(1º/3/2022)
Por Thais Matarazzo
Hoje, terça-feira de Carnaval, faleceu aos 91 anos, em São Paulo, a cantora Esterzinha de Souza.
Pertenceu ao elenco da Rádio Record,
esposa do maestro Cyro Pereira.
Acima de tudo, foi uma pessoa
incrível e sem cerimônias! Um ser iluminado, dona de um sorriso radiante como
um girassol.
Foi por causa da Esterzinha que me
apaixonei pela história da fase artística da Rádio Record!
Nunca me esqueço que a Esterzinha
sempre contava uma história muito engraçada acerca dos discos 78 rotações com
marchas carnavalescas que gravou nos anos 1950.
Todo final de ano vários compositores
costumavam procurar os cantores nas rádios para divulgarem suas composições
para o Carnaval, que chegaria em poucos meses.
O assédio era grande, aparecia gente
de todos os lados a oferecer marchas e sambas. Esterzinha também recebia as
músicas a serem cantadas pela direção do rádio.
"- Tinha cada porcaria! Mas era
Carnaval e a gente precisava apresentar as músicas da época. Os compositores
apareciam lá na Rádio Record para tentar um sucesso. Mas não era fácil!",
contava às gargalhadas.
"- Na maioria das vezes as
músicas não eram gravadas em discos. Nós só cantávamos na rádio e fazia sucesso
nos bailes, no Carnaval de rua com os alto-falantes nos bairros, nas
apresentações que fazíamos nos cinemas e circos da cidade. Uma loucura! É
verdade que as músicas falavam das coisas da época, como a inflação, por
exemplo. Gravei um disco com a marcha 'Carne de Cavalo', era assim: ' Carne de
cavalo / Carne de baleia / O povo come tudo / quer barriga cheia. / Quer
barriga cheia isso tá na cara / mas fazer o quê se a inflação não
para...'"
Por curiosidade perguntei à
Esterzinha se ela tinha todos os seus discos 78 rotações. Ela balançou a cabeça
e confessou:
"- Aquelas músicas de Carnaval
que gravei eram tão ruins que não quis guardar os discos. Pra falar a verdade,
depois que passava a folia de Momo, eu quebrava os discos".
Com um pouco de sorte, consegui
resgatar algumas dessas gravações com colecionadores de disco. Organizei tudo
em um CD e levei uma cópia para Esterzinha.
Quando ela recebeu o CD ficou admirada em alguém ter aqueles discos. Colocou no aparelho para reproduzir. Após ouvir duas ou três músicas desabafou: "- Não te disse que não valia a pena escutar... Só mesmo por curiosidade... Cada coisa que a gente faz na vida!" - e com muito bom-humor encerrou a conversa naquela tarde.
Esterzinha de Souza à frente da orquestra de Raul de Barros na boate Excelsior, 1951/52. À esquerda, ao piano, está Cyro Pereira. |
Comentários
Postar um comentário