Um dia por vez: Careca... Ser ou não ser?

 

(5/3/2022)

Por Thais Matarazzo

Acredito que a maioria dos pacientes oncológicos que usam perucas, lenços, turbantes, chapéus, toucas ou outros acessórios na cabeça porque perderam seus cabelos, devido ao efeito colateral das quimioterapias ou de outros protocolos terapêuticos, já ouviram incansavelmente essas chatíssimas indagações:

- Ah você está careca?

- Por que você não assume a careca de vez?

Ora bolas, não sei o que as pessoas tem na mente e no coração quando fazem  perguntas dessa natureza a um paciente que já está fragilizado devido ao momento difícil e complexo. Não trata-se somente da vaidade, o problema é mais profundo.

Assumir publicamente a careca é um dilema para quem sempre teve cabelos! 

A opção cabe a cada um, precisa ser respeitada e não questionada.

Tem pacientes oncológicos que sentem-se bem em mostrar o couro cabeludo sem pelos. Tiram fotos e postam nas redes sociais, fazem ensaios fotográficos etc. Acho muito bacana, mas repito: é uma decisão pessoal!

A mesma situação se dá com pessoas que tem alopecia, ocorrida por diversos fatores. 

"- Cabelo importa sim!" - é a reposta que dou para quem diz que "Cabelo não é nada. É de menos!". Quanta insensibilidade!

Vira e mexo digo que se a pessoa acha bonito ou suave ser careca, basta que ela raspe seus cabelos e saia desfilando por aí com um novo look. Fácil é falar, quero ver ter atitude! Ah, sim, e o mais importante - fazer a doação das madeixas para as instituições que realizam um magnífico trabalho voluntário de confeccionar perucas e doar para quem necessita!

Quando meu cabelo caiu sofri um bocado, dá mesmo um desespero quando acontece, e causa certa angústia saber quando os fios voltarão a crescer novamente! 

Mas rapidinho superei essa etapa, ganhei uma linda peruca do IAM Instituto Amor em Mechas  (aliás, um Kit fabuloso), adquiri diversos turbabtes e lenços. Gosto de usar todos! Modéstia à parte me caíram muito bem! Uso e abuso!

Não me sinto confortável em aparecer careca e ponto final.

Eu sinto muitas saudades de ter meus cabelos e poder penteá-los. Tem momentos que sem perceber abro a gaveta e pego uma escova... Aí me lembro que por hora não é possível usá-la, deve ser a força do hábito.

E não me digam que é isso é coisa de mulher, nada disso: no ambulatório onde realizo as infusões de quimioterapia, já conversei com três homens maduros que choram quando falam da queda dos cabelos. Teve um senhorzinho que confessou: "Vivi 70 anos com uma vasta cabelereira e agora que eles caíram parece que perdi minha identidade". 

Ainda bem que existem pessoas de corações generosos que não subestimam o problema da queda de cabelo causado por doenças ou outro tipo de situação. Trabalham em prol de levar alegria e conforto a quem precisa. São voluntários e doadores que atuam com afinco, e tantas vezes anônimos, pelo amor ao próximo. Ao invés de querer constranger ou envergonhar o seu semelhante, doam amor, solidariedade e dignidade!

                                                          
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