CAIXA DE BRINQUEDOS

 Crônica de Thais Matarazzo

Ilustração Alexandre de Morais Almeida

De uma caixa de brinquedos

Tiro sonhos e segredos

E descubro o que é mesmo ser feliz

Coelhos da cartola

Tiro bonecos de mola

Com o dedo no nariz

Tiro música de ouvido

Arco-íris colorido

Brotando de um chafariz

Os gatos no escuro

De cima dos muros

Batem palmas, pedem bis...

 

Esse é o trecho da música cantada por Lucinha Lins e Cláudio Tovar, na abertura do programa Lupu Limpim Claplá Topô, da extinta TV Manchete (canal 9), a canção também dá título a um espetáculo teatral do casal de artistas.

Eu assistia a esse programa e ficava encantada, Lucinha e Cláudio apresentavam o infantil com diversos figurinos, tinha teleteatro caprichado, dança, música, brincadeira com as crianças da plateia e o sorteio dos brinquedos Estrela, produtos desejados por todas as crianças nos anos 1980 e 90. O cenário era uma graça!

Uma vez, escutei alguém dizer que Lucinha Lins era a “Cinderela brasileira”, fixei na memória. Acreditava que ela era a personagem dos contos de fada e do filme da Disney: alta, cabelos loiros, alegre, talentosa e de olhos azuis, afinal a televisão tem esse poder de magia na vida dos seus telespectadores.

Lupu Limpim Claplá Topô é uma palavra complicada para memorizar, na verdade, são os nomes dos dois artistas na “língua do P”.

O programa estreou na telinha da Manchete em 1986, sendo gravado na sede da Block Editores, na Rua do Russel, 766, no Rio de Janeiro. Na plateia, as crianças vinham fantasiadas e acabavam por participar das atrações. Todo visual e layout das apresentações despertavam a fantasia na mente da garotada. Entre um número e outro, passavam vários desenhos. O teleteatro era rico nos cenários e no figurino. Eram apresentadas várias peças de clássicos infantojuvenis mundiais.

Lucinha Lins também gravou a música Dona Felicidade, em um disco (o famoso “bolachão”), com o Trem da Alegria, um grupo de sucesso da época e composto por crianças. Até hoje lembro um trecho da gravação:

 

Lua lá no céu,

queijo, pão de mel,

na ponta do pincel

Mostra no papel,

aonde encontrar

a tal da Dona Felicidade

Perguntei pro céu,

perguntei pro mar,

prum mágico chinês

Mas parece que ninguém sabe,

aonde a Felicidade,

resolveu de vez morar...


 
Além do teleteatro, gostava de assistir aos duetos cantados e dançados por Lucinha e Tovar, quando eles trajavam smokings e faziam trejeitos do Carlitos, inesquecível personagem de Chaplin. Em outras ocasiões, sentavam-se em um baú e começavam a narrar uma história, de repente, do baú saltavam atores ou cantores convidados para o programa.

Em 1986 e 87, o casal de artistas também se apresentava nos teatros de São Paulo, com várias peças. Uma delas foi Caixa de Brinquedos, de autoria de Cláudio Tovar. Assisti-a no extinto Teatro Bandeirantes, na Av. Brigadeiro Luís Antônio, na Bela Vista.

Uma superprodução, uma mistura de teatro, circo e grande show. A história que amarava os quadros girava em torno de um naufrágio ocorrido em Bagdá, Lucinha e Tovar eram os personagens principais e viviam mil aventuras com um gênio vilão. Havia números musicais com bailarinos, acrobatas, palhaços e um sem número de atrações e emoções. Mesmo pequenininha, foi fantástico, um presente poder ver de pertinho a atuação desses artistas brasileiros tão talentosos, simpáticos e carismáticos. Eles também interagiam com a plateia. A imagem (em movimento) de Lucinha e Tovar está registrada na memória de menina com sabor de doçura!

Fugindo um pouco do foco desta crônica, outra atração da TV Manchete que eu amava assistir era a série japonesa do gênero tokusatsu, Jaspion, transmitido na hora do almoço. Foram comercializados brinquedos, acessórios dos super-heróis orientais, como chiclete, álbum de figurinhas, tênis. Recordo-me que ganhei um kit com máscara e espada de plástico. Então, a garotada escolhia um dos heróis e brincávamos que estávamos nos defendendo do inimigo, era muito engraçado, pois, passado um tempo, a espada de plástico dobrava ao meio, mas não quebrava, e brincávamos assim mesmo.

Há uns 10 anos, no Itaú Cultural, na Av. Paulista, esteve em cartaz um show em homenagem à cantora Clara Nunes, várias intérpretes se apresentaram, entre elas, Virgínia Rosa e Lucinha Lins como convidada especial. Um amigo me alertou e fomos juntos até lá. Comentávamos no metrô sobre os trabalhos da Lucinha Lins e do Cláudio Tovar, e do infantil da TV Manchete, que não nos lembrávamos do título, mas nada como a ajuda do Google: Lupu Limpim Claplá Topô.

Chegamos mais cedo para comprar os ingressos, para nossa grata surpresa, a Lucinha Lins estava batendo papo com algumas pessoas no café do Itaú Cultural. Meus olhos brilharam quando a vi. Meu amigo sugeriu que esperássemos um pouco, quando ela passasse por nós, a abordaríamos. Fiquei com vergonha, mas ele a chamou, e Lucinha foi tão receptiva e simpática. Conversamos rapidamente sobre o programa e a peça Caixa de Brinquedos. A atriz comentou que as pessoas sempre falavam sobre o assunto quando a encontravam, e isso a comovia, ainda afirmou que trabalhar com o público infantil foi um presente em sua vida. Achou graça quando comentei que a considerava a nossa “Cinderela brasileira”. De repente, um acompanhante da artista a chamou, precisavam se apressar para se prepararem para o show. Foi um feliz encontro!


Comentários