Fragmentos da história de Zezé Macedo - Por Thais Matarazzo

 

Zezé em frente à casa em que nasceu e foi criada
na Rua Padre Ávila, em Silva Jardim.
Ilustração Camila Giudice @vernizartes

I Parte – CAPIVARY


Tudo isso evoca em mim, a saudade

Da minha infância passada aqui

Harpas vibrando em doidas cantigas;

Sonhos e lendas – “Capivary”...

 

Beijo-te, humilde, meu Município

Que estás comigo, que estás assim.

Como um estigma ou como um sinete

Brazão de honra – “Silva Jardim”

(...)

Beijo-te o solo, rincão querido

Tuas palmeiras, beijo o teu chão...

Capivary, minha linda terra

Tens, inteirinho, o meu coração...

(Poema – homenagem à minha terra, do livro Meu Breviário, 1981)

Silva Jardim é a terra natal da poetisa, atriz e comediante Zezé Macedo. Dista cerca de 110 quilômetros do Rio de Janeiro.

A história da cidade confunde-se com a da família da artista.

Quando Zezé nasceu o município chamava-se Capivari, nome do rio que corta a localidade. Fundado em 1801, o vilarejo surgiu em torno da criação da igreja de Nossa Senhora da Lapa. A partir do ano de 1943, a vila de Capivari teve seu nome alterado para Silva Jardim, uma homenagem ao jornalista e político fluminense Antônio da Silva Jardim.

Atualmente, a população local ultrapassa os 20 mil habitantes. A cidade faz divisa com os municípios de Casimiro de Abreu, Nova Friburgo, Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu e Araruama.

Zezé Macedo é o nome artístico de Maria José de Macedo, filha de Etelvina Porto de Macedo e do advogado Raul Bastos de Macedo. Recebeu o nome em homenagem à avó materna.

Nascida a 6 de maio de 1910, às 9h20, na casa nº 7 (atual n. 481) da Rua Padre Ávila (informações localizadas em documentos cartoriais). Seus pais tinham um filho mais velho, João Antônio, nascido em 1895.

Raul Bastos de Macedo era conhecido como “Coronel Macedo” ou “Tenente Macedo”, liderança política em Capivari. Natural de Barra de São João (atual Casimiro de Abreu), nascido em 1864, sendo filho de João Antônio de Macedo e Luiza Bastos de Macedo.

D. Etelvina nasceu em 1872, também em Barra de São João. Filha de Joaquim Luís da Silva Porto e Maria José Ferreira Ribeiro Guimarães. Muito jovem, em 1890, Etelvina casou-se com Francisco de Paula Vianna, mas parece ter ficado viúva muito cedo. Em 1895 nasce João Antônio, o primeiro filho do segundo casamento.

O casal Macedo passou a habitar o casarão n. 7 da Rua Padre Ávila, no centro de Capivari. Na verdade tratava-se uma chácara com muitas árvores frutíferas e o casarão está no meio do terreno. Zezé relembra esse espaço em seu livro “A menina do gato” (1997).  A casa ainda está de pé e hoje é um ponto turístico da cidade.

Entre o nascimento de João Antônio e Zezé passaram-se 15 anos! Nesse ínterim, Raul e Etelvina tornam-se padrinhos de várias crianças da cidade, adotam 18. O casal era muito querido em Capivari. Essa passagem é sabida por que Zezé fala sobre o assunto em uma entrevista concedida a Grande Otelo, em 1982.

O batizado de Zezé aconteceu no Natal de 1910 na paróquia de Nossa Senhora da Lapa, o ato religioso foi celebrado pelo padre Francisco Perilli, sendo madrinha Nossa Senhora e o padrinho Columbano Santos (também era dia do seu aniversário). Ele era um grande amigo de Raul e Etelvina. Conhecido como “Capitão Columbano” era liderança política e tabelião em Capivari.

Columbano Santos será um nome ligado para sempre à vida de Zezé Macedo, esteve presente em todas as etapas da sua vida. Ao batizá-la criou um vínculo forte de amor, atenção e dedicação à sua afilhada.

Tudo corria bem no lar dos Macedo. Maria José foi criança mimada por toda a família, por ser a caçulinha. Recebeu muito amor. Tinha um gato por companhia chamado Paquita (mas era macho), sua mãe costumava dizer que “o gato nasceu em cima da filha”, tal a afinidade que tinham. Gostava de brincava na rua com seus primos e amigos, o gato a seguia sempre, por isso, a chamavam de “a menina do gato”.

Desde cedo aprendeu com os pais a importância da prática das boas ações, do amor e do respeito ao próximo, virtudes constantes na vida de Zezé; outra lição que recebeu cedo e praticou por toda a vida foi a defesa aos animais, gostava de todos, mas sua preferência eram os gatinhos.

Desde a mais tenra idade já queria sonhava em ser artista, talvez esse desejo tenha sido despertado pelo circo. Era comum no começo do século passado as trupes de circos viajarem de cidade em cidade fazendo a alegria das pequenas localidades interioranas. Assim Zezé relembra neste trecho do poema O Circo:

(Ai, como é lindo o circo, meu Deus!)...

Ai, quem me dera fugir com eles,

Ser amazona, ser bailarina

Andar no arame, como a menina

Cuja sombrinha me faz sonhar...

(Meu Breviário, 1981)

Raul de Macedo também foi tabelião, tribuno, maçom, deputado e presidente da Câmara Municipal de Capivari. Costumava viajar até o Rio de Janeiro (capital do Brasil até 1961) para participar das atividades legislativas da Câmara dos Deputados.

Nos últimos tempos sua saúde estava declinando, em janeiro de 1918, foi internado às pressas na Casa de Saúde São Sebastião, à Rua Bento Lisboa, 170, no bairro do Catete. Passou muito mal e acabou por falecer no dia 20 daquele mês, vitimado por insuficiência renal em decorrência da diabetes. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio.

A notícia foi trágica para a família.

Homem culto, profundo conhecedor do Espiritismo e apaixonado por política, o “Coronel Macedo”, foi pranteado pelo povo de Capivari. Era também conhecido como “advogado dos pobres”.

Foi a primeira perda na vida na vida de Zezé Macedo!

 CONTINUA...


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