Colheita da Poesia

 (Crônica de Thais Matarazzo - 10/1/2022)
Coletivo São Paulo de Literatura.
Arte: Camila Giudice

Nestes últimos dias o tempo anda acabrunhado em São Paulo, chuva e frio em pleno verão. Tudo fica úmido, até o nosso humor. Começo de ano é sempre chocho mesmo, tudo segue devagar, menos a contaminação do Coronavírus – é mais rápido do que qualquer outra coisa – trazendo consequências terríveis para todo mundo.

Mas um sopro de primavera chegou-me através de um telefonema e de um e-mail.

Antes de iniciar a pandemia o Brasil, o Coletivo São Paulo de Literatura, do qual faço parte, costumava realizar vários eventos literários / artísticos e participar de outros tantos. Nas oportunidades, distribuíamos poemas autorais e livros diversos, batizamos o projeto como Leva-me Contigo! Nos inspiramos na ideia da poeta Cris Arantes.

Estivemos em tantos lugares que nem sei fazer uma relação completa dos endereços.

Teve uma época em que marcamos presença nos domingos à tarde na Av. Paulista. Foi divertido. Usávamos nossos figurinos e foi projeto muito gratificante. Montávamos vários varais e pendurávamos nossos poemas, chamávamos as pessoas para retirarem gratuitamente um, outras se aproximavam espontaneamente.

Não foram poucas às vezes que as pessoas paravam para conversar e desabafar sobre seus problemas cotidianos e dilemas, conversar sobre poesia e literatura, enfim, assuntos não faltavam. Depois, agradeciam a atenção dispensada e a palestra. Saiam sorrindo e levando graciosamente um poema impresso, mas aquele pedaço de papel representava muito mais: um alento.

Neste final de semana recebi um e-mail de uma jovem que esteve conosco na Paulista no final de 2019. Ela relatou que naquela ocasião havia se mudado para São Paulo e sentia-se muito sozinha, longe da família e dos amigos. Veio para estudar e não conhecia quase ninguém. Nos viu lá distribuindo poemas e resolveu parar para conversar um pouquinho. Nos a acolhemos e lhe dissemos que ela tivesse paciência, que tudo daria certo na sua vida e na faculdade. Ela ficou super feliz, levou vários poemas. O tempo passou, e neste e-mail ela me conta que está bem e os estudos vão de vento em popa. Afirmou que aquele encontro conosco foi decisivo e importante, pois ela estava desalentada, pois viver em São Paulo é muito difícil mesmo.

É tão gostoso e gratificante receber a devolutiva do público, significa que nosso trabalho vale a pena!

Por sugestão da poeta Irene Oliveira, levamos o Leva-me Contigo! para o Parque da Água Branca, aos domingos. Foi outro sucesso. Só paramos mesmo por conta da pandemia do Coronavírus. Novamente, muitas pessoas levaram nossos poemas e agradeciam a pequena gentileza e a nossa disponibilidade.

Hoje pela manhã recebi um telefonema, não reconheci a voz. A senhora logo se identificou e falou sobre os “poemas da Água Branca”. Ela contou que em um daqueles domingos pegou vários poemas da Irene e meus, estava na companhia de um novo namorado. Não sabia se o relacionamento seguiria adiante. Então, ela passou a ler para ele, todo dia, um poema. Deu certo. Eles estão firmes e passaram escrevem poesias um para o outro. Lindo, não é?

Nada nesta vida é em vão. Às vezes nos comprometemos com certos projetos e ideias e eles parecem soar sem propósito no momento. Custam trabalho e sacrifícios, acontece é que não enxergamos lá na frente... Afinal, ninguém tem bola de cristal.

Ações singelas, feitas com amor e ternura, como o Leva-me Contigo! floresceu. Sempre chega a hora da Colheita da Poesia, e pelo jeito, está ótima!


Varal de poemas.
Arte: Ulysses Galletti

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